Cães agitados não sabem o que fazer!
- Bruna - Na Minha Matilha
- 15 de jul. de 2019
- 4 min de leitura
Atualizado: 26 de ago. de 2019
Cães são seres vivos com uma estrutura fisiológica complexa, altamente sensível a fatores externos, ao ambiente e seus hábitos, sejam eles alimentares ou de comportamento. Tudo que os cães ingerem e fazem, reflete diretamente nas funções de seu organismo, causando alterações que podem ser positivas ou negativas. Os níveis de hormônios se alteram de acordo com a rotina, ambiente e hábitos que levamos junto com nossos animais. Partindo da idéia de que, quando nasce uma ninhanda de cães é imediatamente estabelecido um sistema consistente de regras, limites e restrições aplicadas pela mãe, num estado orgânico de calma e assertividade, é assim que os filhotes associam o mundo de uma perspectiva segura e plena. Estudos comprovam que, quando cães nascem apenas seu sentido olfatório está em funcionamento e logo após, é desenvolvido o tato, seguido da visão e por último audição¹. Portanto quando se trata da memória olfativa de um cão, a interpretação de uma energia calma e assertiva vindo de outra espécie é considerada passiva de ser seguida.
Se levarmos em conta que os neurônios são células nervosas e uma de suas funções é habilitar o animal a ajustar-se às alterações do ambiente externo ou interno, atuando como sistema de controle² podemos dizer que, os sentidos regem a percepção canina sobre os acontecimentos e o ambiente ao seu redor. Se compararmos isso ao fato de que 60% do cérebro canino é regido pelo olfato, devemos todos trabalhar com a seriedade de que nossa comunicação com a especie canina deve respeitar a ordem nariz, olhos, ouvidos, e isso levará o cães a terem 60% mais de compreensão e velocidade de associação a mensagem que está sendo passada. Transportando esses conceitos para um ambiente sem regras, limites e restrições impostas de maneira calma e assertiva, as quais eram a referência de comportamento ensinada por sua mãe, os cães instintivamente começam a tomar atitudes em relação ao ambiente que vivem para torná-lo seguro, pela sua necessidade instintiva de sobrevivência básica associada a água, alimento, abrigo e reprodução.
No cenário onde há tomadas de decisões realizadas repetidamente por um cão, cria-se um hábito e por consequência, um comportamento, onde à todo momento, este animal estará tomando as rédeas da situação. Contudo por estar em um ambiente urbano controlado porém com suas necessidades específicas não atendidas, este cão desenvolve insegurança, podendo se seguida de ansiedade, medo e agressividade.
O cenário descrito acima, associado a falta de respeito na ordem da comunicação canina nariz, olhos e ouvidos, gera uma agitação constante nos animais, onde os mesmos não conseguem mais interpretar o que lhes está sendo pedido e a única opção que lhes resta, no que tange sua necessidade de sobrevivência, é reagir, principalmente frente a eventos totalmente fora de controle. Agitação, ansiedade, medo e agressividade ativam o sistema nervoso autônomo (simpático) que é responsável pela manutenção da homeostasia no corpo, liberando uma carga hormonal adrenérgica de Adrenalina e Noradrenalina, que também são neurotransmissores naturais, presentes em níveis regulados para manutenção de pressão arterial e frequência cardíaca. A presença elevada desses hormônios leva a uma condição de estresse crônico, onde o corpo trabalha com um aumento da frequência cardíaca, respiratória e de pressão arterial constantes, além do aumento na liberação de cortisol, e em situações onde o comportamento é repetido diversas vezes, a liberação desses hormônios pode levar até a desregulação na secreção de a insulina e glucagon, hormônios esses que atuam na regulação de açúcar do organismo, o qual em excesso é responsável por causar doenças como a Diabetes².
Somado ao que já foi descrito acima, Adrenalina e Noradrenalina causam vasoconstrição periférica, que é a diminuição da luz do vaso de veias e artérias, prejudicando ainda mais a capacidade do cão de interpretar as situações pelo olfato. Uma vez que o vaso está constrito a quantidade de volume de sangue transportando oxigênio, glicose e nutrientes diminui, diminuindo por consequência a capacidade do órgão de funcionar adequadamente, fazendo-o entrar em modo constante de fuga ou luta². Considerando o estudo onde diz que o córtez cerebral pode iniciar a movimentação de um membro ou parte do corpo, mas uma vez em movimento as forças inerciais tenderão a mantê-lo em movimento até que forças opostas o interrompam, podemos concluir que, é necessário um estímulo para tirar o cachorro do estado de agitação e trazê-lo para o estado mental de calma².
No que tange a necessidade de mudança podemos levar em conta a capacidade de alteração molecular da água de acordo com o estresse do ambiente, devemos considerar de nossa responsabilidade mudar nossos hábitos, atitudes e ambiente para que essa condição oxidativa do estresse canino não se torne a única condição de vida do animal uma vez que, somos feitos de 70 a 75% de água e cães de 60% quando adultos e 84% quando filhotes. Por fim, cães não gostam e não estão prontos para serem agitados ou levarem o famoso jargão para casa de “esse cachorro não para”, cães conhecem a calma no seio da maternidade assim como rotina, regras, limites e restrições porém, o ser humano de maneira egoísta ou talvez ingênua, retira sua melhor capacidade de comunicação quando condicionamo-os a ambientes tóxicos, desestruturados e com comunicações desconexas do ponto de vista canino, em troca apenas da nossa necessidade de amor incondicional.
Então, quando vamos começar nossa mudança? Hoje é o melhor dia da vida do nosso cachorro, ele está esperando.
Referências Bibliográficas:
1- Como criar o cão perfeito desde filhote – Cesar Millan
2- Fisiologia dos animais domésticos – William O. Reece
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Texto escrito por:
Bruna Centurione Tetti

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